Produtora remove análises negativas sobre game no YouTube e gera confusão

A Battlestate Games, desenvolvedora russa do shooter Escape From Tarkov, estaria utilizando o sistema de verificação de copyright do YouTube para atacar um produtor de conteúdo responsável por críticas negativas ao título. Pelo menos 47 solicitações de remoção de conteúdo teriam sido registradas contra o YouTuber Eroktic, sob a alegação de que ele estaria espalhando informações falsas sobre incidentes de segurança e “hype negativo” sobre o jogo.

As sucessivas notificações levaram também a sanções da plataforma sobre o canal de Eroktic, que tem 49 mil seguidores e viu sua capacidade de publicar vídeos retirada, bem como a possibilidade de realizar transmissões ao vivo e monetizar suas produções. De todas as penalizações, pelo menos a primeira delas já foi revogada, com o YouTuber já podendo realizar uploads. O status das outras solicitações ainda é desconhecido e a Google, dona da plataforma de vídeos, não se pronunciou.

Enquanto isso, a Battlestate Games também já veio a público falar sobre o caso, afirmando que Eroktic estava divulgando informações falsas sobre incidentes de segurança relacionados a Escape From Tarkov. O YouTuber afirmou, em vídeos, que informações pessoais dos jogadores registrados para testes do título, bem como e-mails e senhas, teriam vazado em um comprometimento do banco de dados da desenvolvedora, que negou a existência de algo assim e reafirmou a segurança dos dados de seus usuários.

Ela, entretanto, admitiu que apenas dois dos quase 50 vídeos atingidos pelos pedidos de copyright tratavam do suposto vazamento de dados, uma alegação que a Battlestate julgou como nociva aos negócios da companhia. Os outros, entretanto, estavam disseminando “hype negativo” sobre Escape From Tarkov e que, apesar de ele não ter infringido os termos de uso do game ou do próprio YouTube, não viu outra opção a não ser realizar as solicitações como forma de acabar rapidamente com o que chamou de “onda de desinformação”.

Tais admissões levaram a uma onda de críticas e acirrou ainda mais os ânimos da comunidade do game, que acusam a desenvolvedora de abusar de meios legais para impedir a publicação de críticas negativas sobre o jogo. A política de “atire primeiro, pense depois” do YouTube, em relação a pedidos de copyright, tende sempre a favorecer os solicitantes, mesmo que eles não tenham razão, no que teria transformado as solicitações em uma arma contra a livre divulgação de conteúdo.

A reação levou a empresa a emitir um novo comunicado, afirmando que revisaria, um por um, os pedidos de copyright. Caso perceba ter cometido abusos ou “marcado” conteúdo que não infringiria normas ou conteria “retórica negativa”, se compromete a retirar os pedidos, mantendo apenas aqueles que seriam justificados. Para muitos criadores e apoiadores da empresa, entretanto, é tarde demais para qualquer pedido de desculpas ou justificativa.

Falando com a imprensa internacional, ainda, um porta-voz da companhia disse nunca ter utilizado pedidos de copyright e que não pretende fazer isso de novo, mas que precisava mostrar à comunidade que o “hype negativo e a desinformação” não serão tolerados. “A comunidade e o jogo não merecem isso”, completou, dizendo que, daqui em diante, casos desse tipo serão resolvidos judicialmente e da maneira tradicional.

As reações negativas levaram até mesmo à saída de “emissários” de Escape From Tarkov, um grupo de criadores de conteúdo selecionados pela Battlestate para divulgarem o game, recebendo versões de testes antes de todo mundo. Um deles, conhecido no YouTube como OnepegMG, foi o mais duro nas críticas e, em um vídeo de mais de 15 minutos, afirma que a empresa, de desenvolvedora de “um dos melhores shooters” que já havia visto, se tornou “uma empresa que transformou alguém que foi longe demais em um exemplo”.

Klean, outro criador responsável por um podcast sobre o jogo, também anunciou o fim do projeto devido às práticas “antiéticas” da produtora, enquanto outros tantos YouTubers afirmaram que não mais cobririam Escape From Tarkov, com direito até mesmo à remoção de vídeos que já haviam sido publicados sobre o game.

E mesmo com tudo isso, a Battlestate não parece disposta a recuar. Em publicações pelo Facebook e falando diretamente à comunidade de Escape From Tarkov, ela diz que não deseja assustar criadores nem impedir a postagem de vídeos sobre o título. Por outro lado, ela pede que os usuários entendam a situação “antes de iniciarem uma nova onda de acusações”.

Além do Twitter, entretanto, o maior afetado pelo caso não falou diretamente sobre o assunto. Ao ter sua capacidade de publicar vídeos reinstituída nesta quarta, entretanto, Eroktic prometeu falar sobre o seu lado da história em um conteúdo que ainda não foi ao ar e deve sair em algum momento desta quinta (20).

Escape From Tarkov tem a promessa de adicionar realismo e verossimilhança aos jogos de tiro em primeira pessoa. Em desenvolvimento desde 2016 e ainda em fase de testes abertos a um público restrito, envolvendo fãs e criadores de conteúdo, o título mostra uma guerra civil em uma região fictícia da Rússia, que acabou isolada do restante do mundo por conta do conflito e transformada em uma terra de ninguém. Por enquanto, o game permanece exclusivo para PC e não tem data de lançamento final marcada.